O canabidiol (CBD) é um de muitos compostos bioativos produzidos pela planta de canábis. Este canabinoide é capaz de se ligar a recetores do sistema endocanabinóide humano e a outros recetores do nosso corpo. Como consequência, o CBD produz uma variedade de efeitos positivos para a nossa saúde e bem-estar.

Aliado ao seu potencial terapêutico, o CBD é um composto que não apresenta efeitos psicotrópicos. Isto contribuiu para que a investigação relativa ao CBD tenha aumentado de forma acentuada nos últimos anos. O objetivo é entender o verdadeiro potencial terapêutico do CBD, particularmente ao nível da dor e inflamação, ansiedade, sono, apetite, e outras condições específicas.

Atualmente, temos à nossa disposição uma grande variedade de produtos à base de CBD, incluindo produtos de CBD solúvel em água. No entanto, muitos consumidores não estão cientes da existência deste tipo de produtos, nem de que forma é que estes diferem dos produtos de CBD convencionais.

Uma vez que os produtos solúveis em água têm características diferentes dos produtos à base de óleo, é importante saber mais sobre esta categoria de produtos, que é relativamente recente. Neste artigo, pretendemos explicar o que são produtos de CBD solúvel em água, como é que são produzidos, e o que os distingue dos demais produtos.

O CBD é solúvel em gorduras e não é solúvel em água

O CBD e os outros canabinoides são moléculas lipofílicas ou lipossolúveis, o que significa que são solúveis em gorduras. A maior parte dos compostos lipossolúveis é também hidrofóbica, o que significa que não se consegue dissolver na água. Isto constitui um desafio para a sua utilização terapêutica.

Não tendo a capacidade de se dissolver na água, o CBD é mal absorvido no intestino, o que resulta, inevitavelmente, numa baixa biodisponibilidade. A biodisponibilidade é a quantidade de CBD que é efetivamente absorvido e chega até a corrente sanguínea, onde é distribuído pelas células.

Devido ao potencial terapêutico do CBD, tem havido uma investigação mais intensa em relação a que métodos podem ser utilizados para tornar o CBD e outros canabinoides mais disponíveis para o organismo.

Aumentar a biodisponibilidade do CBD

As evidências indicam que existem várias estratégias que permitem aumentar a quantidade de CBD que alcança a corrente sanguínea após o consumo de um óleo de CBD.

A dosagem diária de CBD pode afetar a biodisponibilidade. Para dosagens inferiores a 500 mg, aumentar a dose diária de CBD parece resultar num aumento, em termos percentuais, da sua biodisponibilidade.

Outras estratégias, como consumir CBD com uma refeição rica em gorduras e utilizar um óleo de CBD que utilize MCT como óleo transportador, estão relacionadas com um aumento da taxa de biodisponibilidade.

Sabe mais sobre a biodisponibilidade do CBD aqui.

CBD solúvel em água

Tal como o CBD, outras moléculas com potencial terapêutico descobertas recentemente, apresentam o problema da baixa solubilidade em água. Por esse motivo, têm sido desenvolvidas várias estratégias para fazer com que estes compostos sejam absorvidos de forma mais eficaz.

Uma das tecnologias mais eficazes para aumentar a absorção destes compostos é torná-los mais solúveis em água, como é o caso do CBD solúvel em água, conhecido como water soluble CBD.

Na realidade, apesar da utilização deste termo, as moléculas de CBD nunca se dissolvem completamente na água, mas são convertidas numa forma que é muito mais compatível com a água.

Apesar de existirem vários tipos de sistemas de CBD solúvel em água, todos eles se baseiam no mesmo princípio – transformar o extrato de CBD original em pequenas partículas que ficam dispersas num líquido, criando uma dispersão coloidal.

O conceito de dispersão coloidal

Uma dispersão coloidal é uma mistura em que pequenas partículas de uma determinada substância estão dispersas noutra substância. Estas partículas podem apresentar tamanhos entre 1 e 1000 nanometros.

Como já vimos, os extratos de CBD são substâncias muito lipofílicas e que não se dissolvem em água. Se tentarmos misturar um extrato de CBD com água, verificamos que isto não acontece de forma natural, tal como quando tentamos misturar água e azeite.

No entanto, existem mecanismos que permitem quebrar o extrato de CBD em partículas de muito pequenas dimensões, que ficam dispersas na água, criando uma dispersão coloidal estável.

As emulsões, exemplos de dispersões, são misturas homogéneas de dois líquidos que não se misturam. Sem a ajuda de um estabilizador, as emulsões são sistemas instáveis. Se não forem, por exemplo, constantemente agitados, os dois líquidos rapidamente se separam.

Para que uma emulsão se mantenha estável e homogénea, é necessário recorrer a um agente emulsionante.  A maionese é um exemplo de uma emulsão – a água e o óleo compõem uma mistura homogénea e estável graças à lecitina, um emulsionante natural presente na gema do ovo, que estabiliza a emulsão.

Formar pequenas vesículas de CBD

Os agentes emulsionantes utilizados para estabilizar as emulsões têm uma característica muito importante: são compostos por moléculas anfifílicas. Moléculas são designadas de anfifílicas quando são compostas por duas porções distintas – uma porção hidrofílica (que gosta de água) e uma porção hidrofóbica (que não gosta de água).

No caso de uma emulsão, ao agitarmos um extrato de CBD oleoso, água e um emulsionante, as moléculas do emulsionante vão organizar-se em torno de pequenas gotículas do óleo de CBD. As moléculas posicionam-se com a parte que gosta de água virada para fora, ficando junto à água, e com a parte que não gosta de água virada para dentro, ficando junto do óleo.

Estas moléculas criam um género de uma cápsula à volta do extrato de CBD, formando pequenas vesículas. O resultado é uma dispersão de partículas de CBD em água. Utilizando diferentes tipos de moléculas anfifílicas, podemos criar diferentes tipos de sistemas de partículas de CBD.

Diferentes tipos de partículas de CBD

Partículas de emulsão

Como já referimos, quando fazemos uma emulsão com CBD, as moléculas do agente emulsionante formam um género de cápsula que envolve pequenas gotículas de CBD. Estas moléculas posicionam-se com a parte hidrofílica virada para fora, em contacto com a água, e com a parte hidrofóbica virada para dentro, em contacto com o óleo.

Micelas

As micelas podem ser constituídas por diferentes tipos de moléculas anfifílicas. Estas moléculas posicionam-se da mesma forma que as moléculas de emulsionante numa partícula de emulsão – porção hidrofílica para fora e porção hidrofóbica para dentro. Na verdade, micelas e partículas de emulsão são sistemas com bastantes semelhanças.

Podemos pensar numa partícula de emulsão como uma micela insuflada. O núcleo desta partícula é composto por uma gotícula de óleo, ao passo que, numa micela, estão encapsuladas partículas ainda mais pequenas do extrato de CBD.

De uma maneira geral, as micelas são sistemas muito mais pequenos do que as partículas de uma emulsão. Estas pequenas vesículas apresentam tamanhos inferiores a 100 nanometros, podendo assim ser designadas de nanopartículas.

Para além disso, as micelas são sistemas com grande estabilidade, o que, por vezes, não acontece nas partículas de uma emulsão.

Lipossomas

Os lipossomas são sistemas formados por fosfolípidos e apresentam um núcleo aquoso. Ao contrário das micelas, em que existe apenas uma camada de moléculas anfifílicas, nos lipossomas temos duas camadas de fosfolípidos.

As moléculas posicionam-se de forma a que as porções hidrofóbicas fiquem viradas umas para as outras, longe da água. As porções hidrofílicas ficam em contacto com a água, que se encontra não só fora destas vesículas, como também dentro da vesícula, no seu núcleo aquoso.

Os lipossomas são sistemas muito interessantes para uma série de finalidades, e a investigação mostra que a utilização de lipossomas contribui para uma absorção mais rápida e eficaz do CBD, quando comparado com a sua forma original.

No entanto, os processos de produção são complicados e dispendiosos. Para além disso, estes sistemas não são tão estáveis nem apresentam partículas tão pequenas como no caso das micelas e de alguns tipos de emulsão.

Os benefícios do CBD solúvel em água

CBD solúvel em água apresenta uma maior biodisponibilidade e efeitos mais rápidos

Como já vimos, o óleo de CBD apresenta uma baixa solubilidade em água, o que faz com que a sua absorção pelo organismo seja pouco eficaz. No entanto, o CBD solúvel em água é mais facilmente absorvido e processado pelo organismo.

Isto deve-se ao facto de o CBD estar contido nestas pequenas vesículas com uma espécie de cápsula compatível com a água. Desta forma, o corpo reconhece as partículas de CBD como sendo, também, compatíveis com a água.

Para além disso, o facto de as partículas de CBD terem tamanhos muito reduzidos faz com que estas sejam mais facilmente absorvidas no trato intestinal. A maior absorção do CBD solúvel em água resulta numa maior biodisponibilidade, que será cerca de 4.5 vezes superior, de acordo com os estudos.

Para além de aumentar a absorção e a biodisponibilidade, a investigação mostra que a taxa de absorção do CBD solúvel em água é mais rápida.

O CBD solúvel permite uma dosagem mais consistente

Como vimos acima, existem outras estratégias para aumentar a absorção e a biodisponibilidade do óleo de CBD. Uma destas estratégias é, por exemplo, administrar o CBD com uma refeição rica em gorduras.

No caso do CBD solúvel em água, a absorção é menos afetada por este e outros fatores que podem variar na nossa rotina diária. Desta forma, uma vez que existe uma absorção mais consistente, e menos dependente de fatores externos, a dosagem é, também, mais consistente e precisa.

CBD solúvel em água apresenta uma maior estabilidade

Regra geral, os produtos de CBD solúvel em água são mais estáveis do que os óleos de CBD. Os óleos são vulneráveis à oxidação, um processo que acontece de forma natural ao longo do tempo, especialmente na presença de luz e calor.

Em produtos de CBD solúvel em água, por estar contido dentro de pequenas vesículas, o CBD está mais protegido e pode, por isso, apresentar um prazo de validade mais alargado do que no caso dos óleos.

Encapsular o CBD torna-o mais solúvel em água

O CBD é uma molécula com uma afinidade natural para gorduras, o que contribui para uma fraca absorção deste composto pelo organismo. Formulações de CBD solúvel em água têm por base a criação de uma mistura que contenha partículas de CBD de tamanho muito reduzido, que serão mais facilmente absorvidas.

As formulações de CBD solúvel em água trazem vários benefícios reais aos utilizadores. Estas formulações permitem aumentar a compatibilidade do CBD com a água e resultam num aumento muito significativo das taxas de absorção e de biodisponibilidade do CBD. Para além disso, estes produtos apresentam uma maior estabilidade e contribuem para uma dosagem mais precisa.

REFERÊNCIAS

A systematic review on the pharmacokinetics of cannabidiol in humans.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30534073/

Cannabidiol (CBD) dosing: plasma pharmacokinetics and effects on accumulation in skeletal muscle, liver and adipose tissue.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35631242/

The interplay between liver first‑pass effect and lymphatic absorption of cannabidiol and its implications for cannabidiol oral formulations.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32785853/

Lipid nano particulate drug delivery: an overview of the emerging trend.

https://www.thepharmajournal.com/archives/?year=2018&vol=7&issue=7&ArticleId=2344

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https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32147925/

Enhanced stability and oral bioavailability of cannabidiol in zein and whey protein composite nanoparticles by a modified anti-solvent approach.

https://www.mdpi.com/2304-8158/11/3/376