A biodisponibilidade do CBD
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A BIODISPONIBILIDADE DO CBD

 

O canabidiol, normalmente chamado de CBD, é um composto produzido naturalmente pela planta de canábis. Nos últimos anos, o CBD tem vindo a tornar-se muito popular devido aos seus potenciais efeitos terapêuticos e pelas suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, ansiolíticas e analgésicas.

O mundo da canábis medicinal e do CBD é um mundo complexo por uma diversidade de razões. A ciência e a investigação relativas ao CBD e aos seus efeitos ainda estão em desenvolvimento, e há ainda bastante por descobrir em relação ao seu modo de ação e às dosagens apropriadas.

O facto de existirem no mercado muitas variantes de produtos de CBD faz com que seja ainda mais difícil compreender os efeitos e a eficácia de cada tipo de produto. Para além disso, o facto do mercado do CBD não ser um mercado regulado, obriga os consumidores a educarem-se em relação ao tema, para que possam tirar o melhor proveito deste composto tão interessante.

 

 

Produtos de CBD diferentes funcionam de maneiras diferentes

Quando consumimos CBD, é necessário que ele seja absorvido na corrente sanguínea, através da qual será distribuído pelas células e tecidos do corpo, onde produzirá os seus efeitos. Mais do que alcançar a corrente sanguínea, é desejável que o CBD permaneça disponível no sangue durante algum tempo, antes que seja completamente metabolizado e excretado pelo corpo.

Quando se trata de utilizar CBD com um propósito terapêutico, um dos conceitos que surge frequentemente e que deve ser compreendido é o conceito de biodisponibilidade. Neste artigo, vamos explicar em que consiste a biodisponibilidade e que importância tem para fazer um uso eficiente do CBD.

De seguida, iremos olhar para os diferentes métodos de administração de CBD e para as suas respetivas biodisponibilidades. Por fim, vamos tentar entender de que forma podemos otimizar a biodisponibilidade do CBD. Estas informações são muito importantes para que possamos fazer uma escolha informada sobre o melhor produto de CBD para nós e para poder tirar o máximo proveito possível desse produto.

 

 

O que é a biodisponibilidade?

A biodisponibilidade refere-se à quantidade de substância que é, de facto, absorvida pelo corpo e que chega até à corrente sanguínea. Uma vez na corrente sanguínea, a substância pode ser distribuída pelas células e tecidos, e exercer aí a sua ação terapêutica. Portanto, quanto maior for a biodisponibilidade de uma substância, maior é a quantidade da substância que chega às células e tem efeito útil.

Por exemplo, quando consumimos CBD, apenas uma parte desse CBD é absorvido na corrente sanguínea e chega aos nossos órgãos e tecidos. Passado algum tempo, o CBD não absorvido é degradado e eliminado pelo corpo.

Existem muitos fatores que podem influenciar a biodisponibilidade de uma substância, desde as suas propriedades, que determinam a maneira como é absorvida e utilizada pelas células (metabolizada), às características individuais do consumidor, como a idade, o sexo, o peso, etc.

No caso do CBD, o produto escolhido e a forma como é administrado têm um impacto direto na biodisponibilidade. Assim, diferentes métodos de administração de CBD implicam diferentes biodisponibilidades. Para além disso, os diferentes métodos têm diferentes resultados no que toca ao início e à duração dos efeitos do CBD.

 

 

O modo de administração se CBD e a biodisponibilidade

Hoje em dia, temos disponível uma enorme variedade de produtos à base de CBD, e também variadas formas de o administrar. Neste sentido, devemos falar da biodisponibilidade do CBD em função da forma como o CBD é consumido.

Por definição, a biodisponibilidade de uma substância administrada de forma intravenosa, ou seja, injetada diretamente na corrente sanguínea, é de 100%. Outros métodos de consumo apresentam, portanto, biodisponibilidades menores.

 

 

CBD Oral

Um dos métodos mais populares para consumir CBD (e quase tudo) é o método de ingestão, também designado por consumo oral. Quando ingerido, o CBD apresenta uma biodisponibilidade entre os 10 e os 20%, podendo em alguns casos apresentar valores mais baixos, que rondam os 6%.

A reduzida biodisponibilidade do CBD de consumo oral deve-se, em primeiro lugar, ao facto de este ser um composto muito lipofílico, ou seja, com grande afinidade para gorduras. O CBD é capaz de se dissolver em gorduras, mas não é capaz de se dissolver em água.

O facto de o CBD ter uma baixa solubilidade em água, faz com que não seja bem dissolvido durante a digestão e, por isso, tenha maior dificuldade em ser absorvido no intestino.

Para além disso, depois de ser absorvido, o CBD é metabolizado no fígado antes de alcançar a corrente sanguínea. Este processo faz com que uma parte do CBD seja degradado, reduzindo bastante a sua biodisponibilidade.

 

 

CBD Sublingual

Outro método popular de administração de CBD é o consumo sublingual, também chamado de uso bucal. Este método consiste em colocar o óleo de CBD debaixo da língua, durante pelo menos 30 segundos.

A área sublingual apresenta uma grande quantidade de capilares sanguíneos com grande capacidade de absorção. Desta forma, quando administrados de forma sublingual, o CBD e os outros compostos são absorvidos pelos capilares diretamente na corrente sanguínea.

De uma maneira geral, pensa-se que biodisponibilidade do CBD consumido desta forma possa rondar valores próximos dos 35%. É importante notar que, quanto mais tempo a formulação de CBD ficar debaixo da língua, maior será a biodisponibilidade do CBD, pois uma maior quantidade será absorvida.

 

 

Inalação de CBD

O método de inalação é, também, um método popular de consumo de CBD, seja através de vaporização, seja através do fumo. A inalação de CBD é a forma mais rápida de levar o CBD até à corrente sanguínea, e das que apresenta uma maior biodisponibilidade, com valores entre os 30 e os 70%. No entanto, este modo de administração resulta numa curta duração dos efeitos.

 

 

CBD Tópico

A aplicação tópica de CBD refere-se à aplicação de cremes, loções ou do próprio óleo de CBD na pele. Neste caso, os canabinoides são absorvidos pela pele, pela gordura e pelos músculos. No entanto, é muito difícil que estes sejam absorvidos na corrente sanguínea, e por isso a biodisponibilidade do CBD tópico é próxima de zero. No entanto, isto não quer dizer que estes produtos não possam produzir efeitos localizados muito interessantes.

 

 

CBD Transdérmico

Produtos de CBD de aplicação transdérmica, como por exemplo patches de CBD, são desenhados de forma a que o CBD penetre na pele e seja capaz de alcançar a corrente sanguínea, tendo uma ação sistémica e prolongada. Infelizmente, não existe ainda muita informação sobre produtos de administração transdérmica.

 

Discutimos os métodos de administração de CBD em maior detalhe aqui.

 

 

Aumentar a biodisponibilidade do CBD

Como já vimos, diferentes modos de administração de CBD resultam em diferentes biodisponibilidades. Para além destes, uma série de outros fatores contribuem para a variabilidade na biodisponibilidade do CBD.

Características individuais do consumidor, como idade, sexo e metabolismo terão algum grau de influência na maneira como o CBD é absorvido e processado pelo nosso organismo.

A existência de certas patologias e o uso de medicamentos pode, também, influenciar a maneira como o CBD é absorvido e processado, tendo também impacto na biodisponibilidade.

Apesar do crescente interesse no CBD como molécula bioativa e capaz de produzir efeitos benéficos no organismo, um dos principais desafios em relação à utilização do CBD para fins terapêuticos é a sua baixa biodisponibilidade.

Nos últimos anos, um esforço tem sido feito para arranjar estratégias para tornar o CBD mais biodisponível. Nesta secção, referimos algumas das estratégias que têm demonstrado ser eficazes para aumentar a absorção e a biodisponibilidade do CBD.

 

 

Utilizar um bom óleo transportador – óleo MCT

Quando falamos de óleo de CBD, o tipo de óleo transportador utilizado na formulação pode fazer diferença em termos de biodisponibilidade.  O óleo transportador é o óleo em que se dilui o extrato de canábis que, após ser extraído da planta, tem uma alta concentração de CBD e de outros canabinoides.

A existência de um óleo transportador é o que permite produzir óleos de CBD com uma variedade de concentrações. Alguns exemplos de óleos transportadores comuns são o azeite, o óleo de coco e o óleo das sementes do cânhamo.

O óleo MCT (Medium Chain Triglycerides) é um transportador relativamente comum no mundo do CBD, e é conhecido pelas suas vantagens no que respeita à biodisponibilidade. Este óleo é composto por um tipo de gordura chamada triglicéridos de cadeira média, que é normalmente obtido a partir do coco.

Utilizar óleo MCT como óleo transportador aumenta a biodisponibilidade do CBD porque aumenta a sua solubilidade no intestino, facilitando uma digestão e absorção mais rápida e eficiente. Para além disso, o óleo MCT pode ajudar a proteger o CBD da metabolização no fígado que, como já vimos, contribui para a degradação das moléculas de CBD antes que estas consigam alcançar a corrente sanguínea.

Para além de ser um grande aliado na biodisponibilidade do CBD, a investigação indica que o óleo MCT, apenas ele, pode apresentar benefícios interessantes. O óleo MCT é um óleo saudável que não é armazenado como gordura, mas sim queimado para obtenção de energia ou convertido noutros compostos benéficos.  

Estudos apontam o óleo MCT como uma boa fonte de energia, referindo que pode ajudar a controlar os níveis de açúcar no sangue e auxiliar na manutenção do peso. Para além disso, o óleo MCT pode apresentar alguns benefícios ao nível cognitivo.

Por fim, o óleo MCT tem a vantagem prática de ser muito estável e de apresentar propriedades antifúngicas e antibacterianas. Isto significa que as formulações de CBD que utilizam óleo MCT como transportador são mais estáveis e apresentam um prazo de validade mais prolongado.

 

 

Tornar o CBD solúvel em água

Sendo o corpo humano composto maioritariamente por água, existe uma maior eficiência na absorção de compostos solúveis em água do que na absorção de compostos como o CBD, que são solúveis em gorduras. Desta forma, se conseguirmos tornar o CBD mais solúvel em água, ele será mais facilmente absorvido e terá, por isso, uma maior biodisponibilidade.

Uma das principais formas de tornar o CBD solúvel em água é encapsulá-lo em pequenas vesículas, geralmente partículas de emulsão, micelas ou lipossomas. Nos últimos anos, este tipo de estruturas tem tido grande sucesso no mundo da medicina, sendo utilizado para a solubilização de vários fármacos e levando ao aumento das suas biodisponibilidades.

Estas vesículas são pequenas estruturas esféricas e solúveis em água, e são compostas por duas partes distintas: uma parte hidrofílica (com afinidade para a água) e uma parte hidrofóbica e lipofílica (com afinidade para a gordura).

A camada externa destas vesiculas é composta pelas partes hidrofílicas, sendo que é esta parte que fica em contacto com a água. Por outro lado, no interior desta vesicula, encontram-se as partes lipofílicas, onde o CBD fica contido de uma forma natural, uma vez que ele próprio é, também, lipofílico.

Encapsular o CBD e os outros compostos do extrato de cânhamo dentro destas estruturas apresenta várias vantagens, que contribuem para uma maior biodisponibilidade destes compostos.

Por um lado, o facto de o CBD estar encapsulado confere-lhe maior estabilidade e proteção, e impede que este seja rapidamente degradado durante o processo de digestão. Para além disso, devido ao pequeno tamanho das estruturas que envolvem o CBD, a sua absorção será aumentada.

Em alguns casos, este tipo de estruturas permite que o CBD seja absorvido da parede intestinal diretamente para a corrente sanguínea através do sistema linfático. Esta via de absorção é ideal para o CBD, porque contorna a metabolização que acontece no fígado, fazendo com que menos CBD seja degradado e, consequentemente, uma maior quantidade de CBD alcance a corrente sanguínea.

 

 

Acompanhar o CBD com uma refeição rica em gorduras

No que toca à absorção e à biodisponibilidade do CBD, as claras diferenças entre o estado de jejum e o estado pós-prandial (após a refeição) não podem deixar de ser mencionadas.

Como já vimos, O CBD é uma substância lipofílica, o que significa que tem muita afinidade para gorduras. Por consequência, consumir uma refeição rica em gorduras antes de consumir CBD resulta numa melhor absorção e numa biodisponibilidade aumentada.

Sendo solúvel em gorduras, quando é consumido com alimentos ricos em gordura, o CBD é capaz de se dissolver na gordura destes alimentos, sendo assim quebrado em partículas de menor dimensão (emulsionado). Desta forma, existe uma maior probabilidade de o CBD ser absorvido na parede intestinal.

Para além de serem mais facilmente absorvidas, estas partículas menores de CBD sobrevivem no sistema digestivo durante mais tempo, o que significa que o CBD está disponível para ser absorvido durante mais tempo.

Estudos mostram que a absorção de CBD pode ser 3 a 5 vezes superior quando este é consumido com comida, quando comparado com um estado de jejum. Mais do que isso, quando administrado em jejum, o CBD pode ser eliminado do organismo até 9 vezes mais rápido do que quando é administrado com uma refeição.

Faz algum sentido pensarmos que o consumo de alimentos apenas tem impacto na absorção do CBD consumido de forma oral. No entanto, os estudos mostram que, mesmo quando se trata da administração sublingual do CBD, a absorção aumenta após uma refeição rica em gorduras.

 

 

Aumentar a dose de CBD

De uma maneira geral, procuramos aumentar a biodisponibilidade do CBD com o objetivo de aumentar a sua eficácia e, assim, aumentarmos a probabilidade de experienciarmos os seus efeitos positivos.

Aumentar a dosagem diária de CBD e consumir produtos com uma maior concentração leva a que, de uma maneira direta, haja uma maior quantidade de CBD a chegar à nossa corrente sanguínea e a produzir os seus efeitos.

Esta constatação tem por base um raciocínio lógico: imaginemos que a biodisponibilidade de um determinado produto de CBD consumido de uma determinada forma é de 50%. Se consumirmos 100 mg de CBD, irão alcançar a corrente sanguínea 50 mg de CBD.

Da mesma forma, se consumirmos 200 mg de CBD, então 100 mg irão alcançar a corrente sanguínea. Neste exemplo, apesar de termos aumentado a concentração de CBD no sangue, a biodisponibilidade é sempre de 50%. No entanto, não parece ser isto que acontece na prática.

Alguns estudos indicam que a absorção e a biodisponibilidade do CBD são dependentes da dosagem, ou seja, quando aumentamos a dose, a percentagem de CBD que alcança a corrente sanguínea aumenta. Por exemplo, num estudo particular, um aumento de dose de 10 para 20 mg de CBD, resultou numa biodisponibilidade 3 vezes superior.

No entanto, quando se utilizam doses mais elevadas, por exemplo a partir dos 500 mg/dia, este efeito parece não se verificar, pois o aumento da dose não resulta num aumento na biodisponibilidade. Isto acontece, em parte, porque os tecidos atingem um ponto de saturação, sendo incapazes de absorver mais CBD.

 

 

A biodisponibilidade é um fator a ter em conta na escolha do produto de CBD

Entender o conceito de biodisponibilidade e os fatores que afetam a biodisponibilidade do CBD é crucial para conseguirmos maximizar os potenciais benefícios do CBD. Assim, é importante ter conhecimento sobre os produtos que existem no mercado, e escolher produtos de alta qualidade e produzidos de forma a melhorar a biodisponibilidade do CBD.

A escolha do método de administração do CBD é um fator relevante e que deve ser considerado. De uma maneira geral, o método de inalação é dos métodos que apresenta uma maior biodisponibilidade, mas os seus efeitos são de curta duração, quando comparado com outros métodos.

O melhor método de administração e o melhor produto de CBD dependem das necessidades individuais e das preferências de cada um, sendo que os prós e os contras deverão ser devidamente ponderados para cada caso.

Consultar um profissional de saúde ou um especialista em canábis é uma boa ideia quando temos dúvidas sobre o produto, método e dose que são indicados para alcançar os nossos objetivos.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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