Alívio da dor na fibromialgia: O óleo CBD pode ajudar?
O que é a fibromialgia?
A fibromialgia é uma condição crónica caracterizada por dor em todo o corpo, concretamente nos músculos, tendões e ligamentos. Frequentemente, os pacientes com fibromialgia sofrem de fadiga, sono excessivo, dores de cabeça, problemas de memória e concentração e distúrbios do humor, como depressão e ansiedade. O stress emocional e o esforço físico são normalmente mal tolerados, e agravam os sintomas da doença.
Estima-se que, em todo o mundo, a fibromialgia afete cerca de 1 em cada 20 pessoas. Mulheres em idade fértil são a população em que esta condição é mais prevalente. As mulheres apresentam uma probabilidade sete vezes superior de desenvolver fibromialgia. A probabilidade de aparecimento da doença aumenta com a idade, sendo comum manifestar-se entre os 30 e os 60 anos. No entanto, pode afetar também crianças e idosos.
O que causa a fibromialgia?
Não são conhecidas as causas nem os processos específicos que levam ao aparecimento da fibromialgia. Estudos mostram que pessoas com fibromialgia apresentam alterações ao nível do sistema nervoso, concretamente das vias que transmitem e recebem os sinais de dor. Estes pacientes apresentam uma sensibilidade aumentada em relação à dor, e por isso sentem dor em situações que outras pessoas não sentiriam.
A fibromialgia tende a ocorrer em famílias, pelo que se considera provável que fatores genéticos contribuam para o seu aparecimento, mas pouco se sabe sobre os genes envolvidos. Os investigadores acreditam que, na expressão da doença, estejam também envolvidos alguns fatores ambientais, como os níveis de stress. A existência de doenças que causem dor, como a arterite reumatoide, e de doenças mentais, como ansiedade ou depressão, poderão também potenciar o aparecimento da fibromialgia.
Como é feito o diagnóstico da fibromialgia?
Apesar de ser conhecida há várias décadas, o diagnóstico da fibromialgia continua a ser um grande desafio, principalmente porque não existem análises laboratoriais ou exames médicos específicos para a doença.
A fibromialgia é considerada como um diagnóstico de exclusão. Os médicos excluem todas as outras causas de dor, fadiga, perturbações do humor e perturbações do sono, antes de considerarem o diagnóstico de fibromialgia como potencial causa dos sintomas, o que resulta num atraso significativo do diagnóstico.
A invalidação dos sintomas do doente e a falta de sensibilização e de conhecimento adequado da doença por parte dos médicos também têm provado ser causas de um diagnóstico demorado. Uma formação adequada do corpo clínico pode reduzir significativamente o tempo de diagnóstico da fibromialgia.
De acordo com um inquérito realizado em 2010, o tempo médio para um diagnostico de fibromialgia é de 2.3 anos após a primeira apresentação num serviço de saúde. Nesse período, os pacientes veem, em média, 3.7 médicos até conseguirem um diagnóstico. Pessoas com fibromialgia apresentam limitações físicas acentuadas e uma má qualidade de vida no geral, e o atraso no diagnóstico aumenta a frustração dos doentes.
Além disso, existem estudos que mostram uma associação entre o atraso no diagnóstico da fibromialgia e uma pior resposta às diferentes opções de tratamento. Isto significa que um diagnóstico e tratamento mais rápidos podem render melhores resultados em termos de saúde e qualidade de vida para doentes com fibromialgia.
A fibromialgia tem cura?
Não existe cura conhecida para a fibromialgia, e por isso o tratamento é centrado no alívio dos sintomas. Visto não existir um conhecimento claro relativamente aos mecanismos desta doença, não existe também nenhuma terapia específica e direcionada.
A fibromialgia é frequentemente tratada por reumatologistas, mas existem outros profissionais de saúde envolvidos, como profissionais de saúde mental, fisioterapeutas, especialistas em gestão da dor, e outros.
O plano de tratamento de uma pessoa com fibromialgia poderá ser uma combinação de medicamentos, psicoterapia, e técnicas de autocuidado e autogestão, como a prática de exercício físico ou atividades que promovam o relaxamento.
Vários medicamentos podem ajudar a gerir os sintomas da fibromialgia, aliviando a dor, reduzindo a fadiga e promovendo o sono. Frequentemente, aos doentes com fibromialgia é prescrito mais do que um tipo de medicamento.
- Antidepressivos: fármacos que tratam a depressão podem também resultar no caso da fibromialgia, mesmo que não exista depressão. Alguns antidepressivos aumentam a concentração de serotonina e norepinefrina no cérebro, ajudando a aliviar a dor, a melhorar o sono e a saúde mental, melhorando a qualidade de vida.
- Anticonvulsivantes: medicamentos antiepiléticos podem diminuir a dor e a rigidez, bem como promover a melhoria do sono. Estes fármacos funcionam através da interferência com sinais de transmissão de dor para o cérebro.
- Analgésicos: estes medicamentos são muitas vezes prescritos a pessoas com fibromialgia. Analgésicos anti-inflamatórios não costumam ser eficazes porque a fibromialgia não causa inflamação dos tecidos, mas podem ajudar com outras condições dolorosas que coexistam com a fibromialgia.
Não existe um tratamento único para os sintomas de fibromialgia, e os tratamentos que funcionam para uns não funcionarão necessariamente para outros. Pode ser necessário experimentar vários tratamentos para encontrar uma combinação adequada. Mesmo assim, muitos pacientes relatam apenas alívio parcial dos sintomas, e são comuns efeitos secundários de medicamentos.
Algumas pessoas recorrem, ainda, a terapias alternativas, mas não existe evidência de que estas terapias resultem em qualquer efeito. No entanto, algumas destas, como Yoga, Tai Chi, hipnose guiada ou terapias de meditação, podem ser consideradas estratégias de autocuidado, e trazer alguns benefícios.
Canábis para a fibromialgia: CBD ou THC
O CBD é um dos mais de 100 canabinoides produzidos pela canábis. O THC é o canabinoide responsável pela alteração de consciência, pela qual a canábis é famosa. Tanto o THC como o CBD apresentam grande potencial terapêutico, mas o CBD tem vindo a ganhar importância nos últimos anos, em grande parte pela ausência de efeitos psicotrópicos.
Os produtos de CBD disponíveis no mercado são quase exclusivamente produzidos a partir de plantas de canábis com um teor de THC inferior a 0.3%, frequentemente designadas por cânhamo. Assim, os produtos de CBD, no geral, não têm potencial para gerar qualquer efeito inebriante.
A eficácia do CBD na fibromialgia
A planta de canábis é utilizada na medicina há milhares de anos e, nas últimas décadas, muita investigação tem sido feita na área da canábis medicinal. Nos últimos anos, a investigação tem sido direcionada para o estudo de determinados canabinoides em particular, nomeadamente do CBD, e têm sido encontrados benefícios associados a este composto.
O sistema endocanabinoide é um sistema biológico envolvido na regulação de várias funções e processos como o sono, o humor, o apetite, a dor, etc. Estudos mostram que o CBD pode ajudar a reduzir a dor crónica ao interagir com os recetores do sistema endocanabinoide e com vários neurotransmissores.
Uma revisão da literatura de 2020 concluiu que o CBD pode, em alguns contextos, ter benefícios no alívio da dor crónica, melhoria do sono e redução da inflamação. Outra revisão publicada em 2020, sobre o CBD e os distúrbios do humor, encontrou vários estudos que sugerem que o CBD tem propriedades que podem ajudar a reduzir sintomas de depressão, ansiedade e psicose.
A canábis é muito utilizada na indução do relaxamento e promoção de melhorias no sono, humor e apetite, e a investigação nestas áreas continua a ser aprofundada. A eficácia no alívio da dor crónica é uma das propriedades mais investigadas, e vários anos de ensaios clínicos apoiam a utilização de canábis a curto prazo para o tratamento da dor neuropática.
Estudos com canábis na fibromialgia
Atualmente, não existem estudos publicados sobre a fibromialgia que analisem apenas os efeitos do CBD, mas existem vários estudos que analisam o efeito da canábis na fibromialgia. Os resultados nem sempre são concordantes, mas existem indicadores positivos relativamente à utilização de canábis para o tratamento da fibromialgia.
Em 2019, foi publicado um estudo que sugere que a falta de canabinoides endógenos no organismo pode estar na origem de síndromes de dor crónica, incluindo enxaquecas, síndrome do intestino irritável e fibromialgia. Um estudo de 2017 defende que o CBD pode contrariar a hipersensibilidade das células que rodeiam os nervos em pessoas com dor crónica, incluindo as que sofrem de fibromialgia.
Uma publicação de 2020 afirma que, à medida que aumentam as tendências globais de consumo de canábis, aumentam os dados que apontam para um efeito positivo da canábis na fibromialgia. Um estudo randomizado de 2019 observou os efeitos do CBD e do THC em pessoas com fibromialgia. O resultado foi uma diminuição na avaliação de dor de cerca de 30%, quando comparado com o grupo placebo.
Outro estudo de 2019 observou centenas de pessoas com fibromialgia e concluiu que a canábis era um tratamento seguro e eficaz para a doença. No início do estudo, 52.5% dos participantes descreveram os seus níveis de dor como altos. No follow-up a 6 meses, apenas 7.9% reportaram altos níveis de dor.
Uma revisão da literatura, publicada em 2023, concluiu que canabinoides como o CBD e o THC podem ter um papel importante na gestão de sintomas chave da fibromialgia, como a dor, a qualidade do sono, o humor, a libido e o apetite, sendo, por isso, uma válida opção de tratamento.
Apesar de ser necessária bastante mais investigação nesta área, tal como referem os autores destes estudos, os inquéritos sugerem que uma percentagem significativa de doentes com fibromialgia consome canábis para aliviar a dor.
Apesar desta associação poder ser confundida pelo alívio de outras comorbilidades associadas à fibromialgia, uma grande proporção de doentes refere melhorias, tanto ao nível da dor, como no aumento da qualidade de vida, através da utilização de produtos de canábis e de CBD.
Opções de tratamento com CBD para a fibromialgia
Os produtos de CBD podem ajudar na gestão dos sintomas associados à fibromialgia. Existem vários produtos de CBD no mercado, que contêm quantidades residuais de THC, evitando assim os efeitos psicotrópicos associados à canábis.
É importante estar informado em relação aos diferentes tipos de produtos, mas também às dosagens adequadas e aos métodos de administração. Alguns dos produtos de CBD mais populares utilizados por pessoas com fibromialgia incluem:
Óleos de CBD
O óleo de CBD permite que o CBD seja consumido por via oral ou sublingual. O óleo de CBD aplicado debaixo da língua é uma das formas mais populares e eficazes de utilizar o CBD. Desta forma, o CBD é absorvido na mucosa oral, permitindo uma absorção rápida e eficaz na corrente sanguínea. O óleo CBD também pode ser engolido diretamente, sendo nesse caso processado no organismo de forma semelhante aos comestíveis de CBD.
Comestíveis de CBD
Os comestíveis de CBD são engolidos e processados no sistema digestivo e metabolizados pelo fígado. Isto faz com que a absorção do CBD na corrente sanguínea não seja tão rápida e eficaz como no caso da utilização sublingual. Por outro lado, o CBD tende a permanecer na corrente sanguínea durante mais tempo, resultando em efeitos mais prolongados.
Tópicos de CBD
Os cremes, loções e bálsamos de CBD são aplicados na área em que é pretendido o alívio dos sintomas. O CBD é absorvido pela pele, mas não é capaz de alcançar a corrente sanguínea, proporcionando um alívio localizado da dor, através da interação com os recetores canabinoides. Massajar tópicos de CBD em pontos afetados pode ajudar a aliviar a dor da fibromialgia.
Flor de CBD
As flores de CBD são normalmente fumadas ou inaladas. Desta forma, o CBD chega aos pulmões, onde é diretamente absorvido na corrente sanguínea, de forma muito rápida e eficaz. Este método tem como desvantagens a curta duração dos seus efeitos e o difícil doseamento.
Estratégias para aliviar sintomas da fibromialgia
Quando se vive com fibromialgia, podem ser necessárias alterações à rotina diária que ajudem a aliviar os sintomas e a melhorar a qualidade de vida.
Exercício físico
O exercício físico é um dos pilares do tratamento da fibromialgia. Embora a dor e a fadiga possam dificultar o exercício, é muito importante manter-se fisicamente ativo através de um plano de exercícios adequados. A investigação mostra que o exercício físico regular é um dos fatores mais eficazes no combate aos sintomas da fibromialgia, e mesmo níveis moderados são benéficos.
Relaxamento
É importante reservar algum tempo para relaxar, ou praticar técnicas de relaxamento. O stress pode agravar os sintomas ou fazer com que surjam com maior frequência, e pode aumentar as probabilidades de desenvolver uma depressão.
Várias opções ajudam a promover o relaxamento, como meditações guiadas, livros, ou técnicas de respiração profunda. É importante encontrar tempo todos os dias para relaxar, e fazê-lo antes de dormir pode contribuir para uma melhor noite de sono.
Educação, apoio e terapia
Pessoas com fibromialgia devem aprender mais sobre a doença, para que possam gerir os seus sintomas de forma mais eficaz e tomar decisões informadas sobre as suas opções de tratamento.
Encontrar um grupo de apoio com outras pessoas que lidam com a doença, ou organizações dedicadas, pode ser fundamental para obter conselhos e recomendações relevantes. Além disso, ter uma rede de apoio e poder falar com alguém que sabe aquilo por que se está a passar é importante para gerir momentos difíceis.
Se surgirem problemas emocionais, é essencial consultar um profissional de saúde mental. A investigação mostra que terapias como a terapia de aceitação e compromisso e a terapia cognitivo-comportamental, podem reduzir a dor, melhorar o sono e ajudar a lidar com pensamentos e sentimentos negativos.
Hábitos de sono
A fadiga persistente é um dos sintomas mais problemáticos da fibromialgia. As seguintes estratégias podem contribuir para uma melhor noite de sono e ajudar a diminuir o cansaço.
- Criar um ambiente de sono relaxante e estabelecer uma rotina de sono.
- Deitar-se e levantar-se às mesmas horas todos os dias.
- Reservar a cama para dormir, evitando ver televisão, ler ou usar o telemóvel.
- Manter o quarto confortável e num ambiente escuro, silencioso e fresco.
- Evitar estimulantes, como cafeína e nicotina, e evitar o consumo de álcool.
- Descontrair antes de deitar. Evitar trabalhar ou fazer exercício antes de dormir, optando por atividades relaxantes, como meditar ou tomar um banho quente.
- Gerir os níveis de energia ao longo do dia. Em alguns dias, algumas tarefas podem simplesmente requerer demasiada energia. Gastar demasiada energia pode resultar num agravamento dos sintomas de fibromialgia.
O futuro do CBD para a fibromialgia
Hoje em dia, o diagnóstico de fibromialgia continua a ser um desafio, em parte por ser baseado em características clínicas não específicas, e por falta de aprofundamento da doença por parte dos médicos.
A fibromialgia pode ser profundamente incapacitante devido à intensidade e cronicidade dos sintomas, principalmente nos casos de diagnóstico tardio. Infelizmente, as terapêuticas disponíveis nem sempre produzem os resultados pretendidos, e as pessoas procuram alternativas para o alívio dos sintomas.
Para as pessoas com fibromialgia, é muito importante introduzir rotinas saudáveis no dia-a-dia, como a prática de exercício físico, técnicas de relaxamento, estratégias de boa higiene de sono e psicoterapia. Estas atividades devem ser ajustadas para que proporcionem prazer à pessoa que as realiza, incentivando a sua continuidade a longo prazo.
Relativamente ao CBD, existem evidências de que pode ajudar a combater alguns sintomas associados à fibromialgia, mas é necessária mais investigação clínica. Se desejar começar a tomar CBD, informe-se junto do seu médico sobre as potenciais interações com medicamentos. Também importante, informar-se acerca dos produtos que pretende adquirir, e acerca das dosagens e rotinas de CBD adequadas para a sua situação.
Referências: